Consumo Consciente, Sustentável e Saudável
O monge vietnamita Thich Nhat Han escreveu, num dos seus ensinamentos, que tudo se encontra numa folha de papel. Desde o sol, a água e os elementos que alimentaram a árvore que depois de processada deu origem a essa mesma folha, até mesmo ao lenhador que a cortou, ao trigo e a quem fez o pão que o alimentou, assim como aos seus pais – sem os quais a folha de papel que seguramos nunca teria existido.
Este pensamento pode ser transportado para os alimentos que consumimos e se hoje existe uma preocupação com as vitaminas, proteínas e sais minerais que os mesmos possam conter, a sua proveniência começa a ser, para alguns também, uma preocupação. Como se houve trabalho justo e bem remunerado neste processo, se o ser humano por detrás da produção e as suas famílias foram honrados.
No entanto, existe um outro nível neste processo que é a pegada que cada produto pode deixar, o desperdício que cada produto deixa para trás e que viaja consigo.
Perguntam-me com frequência qual é a melhor alimentação. Esta é sempre para mim uma pergunta difícil, porque depende de vários factores. Gosto da visão tradicional que podemos comer tudo o que queremos, desde que se saiba como, quando e em que quantidade.
• Como significa o método culinário para a sua confecção: cru, aquecido, cozinhado no vapor, escaldado em água, estufado em água, estufado em óleo, salteado em óleo ou em água, frito, desidratado ou seco, no forno, na panela de pressão, em sumo, em chá, triturado, em sopas, sólido, fresco, quente, com molhos, sem molhos, caramelizado, com ou sem condimentos...
• Quando? De manhã, ao almoço, ao jantar, antes de dormir, em jejum, antes das refeições, entre refeições, no meio das refeições, no princípio, no meio ou no final do verão, no outono, na primavera ou no inverno, na infância, adolescência, idade adulta, meia-idade, velhice, durante a gravidez, em estados de doença, fraqueza, quando existe vitalidade, quando estamos de férias, com trabalho intenso, quando é necessário foco, relaxamento, criatividade, energia de arranque ou energia de resistência...
• A quantidade, que poderá ser pouca, suficiente ou muita, depende dos aspetos anteriores. Cada alimento poderá ter proporções diferentes segundo o efeito pretendido, idade, estilo de vida, necessidades individuais e estação do ano ou da vida.
Eu adicionaria mais uma: Aquele que deixa a nossa consciência mais tranquila e que significa que além da nossa nutrição individual e familiar estamos também a nutrir o planeta, porque o que temos no prato foi recolhido com atenção e detalhe pelo bem estar global, até à máxima extensão que nos é possível.
Na existência da humanidade sempre houve altruísmo, sempre houve pessoas a querer despertar outros tipos de consciência, no entanto Jesus Cristo ou Buda, por exemplo, não viram a sua existência e a sua obra como um fim, mas sim como fazendo parte de um plano maior.
Actualmente eu não vejo que tudo aquilo que se deseja criar para o bem estar do planeta seja possível no meu período de vida, nem provavelmente na vida dos meus filhos ou na descendência que possam deixar. No entanto, tendo a consciência que somos parte de um processo, independentemente do tempo que possa durar, e que pelo menos no aqui e agora estamos a dar o nosso melhor possível neste memo processo, liberta, no meu caso pelo menos, uma grande tensão e ansiedade da urgência de fazer tudo numa vida, que quando comparada com o tempo do universo é extremamente breve.
Os princípios pelos quais se rege a Frasco a Frasco para mim são nobres.
E se o granel era algo que antigamente surgia devido à não existência de embalagens de forma massiva, como existe agora, hoje podemos escolher não desperdiçar, podemos ser altruístas também.
Este tipo de consumo pode ser comparado a uma meditação, pois existe a atenção e o cuidado neste processo de escolha daquilo que nos vai nutrir.
Quando compramos com amor e respeito pela natureza, cozinhamos com amor e respeito para as nossas famílias, partilhamos amor e respeito com o mundo.